
O que é e como funciona a melatonina?
A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal que regula o ciclo circadiano — o “relógio biológico” que informa ao corpo quando é dia ou noite. Sua produção aumenta à noite, estimulada pela escuridão, e é inibida pela luz.
Ela é vendida nas farmácias como suplemento alimentar, sem necessidade de prescrição médica, em diversas formulações: gotas, comprimidos, cápsulas, gomas. Suas dosagens são variadas, muitas vezes maiores ou menores do que as recomendadas para tratamento dos distúrbios de sono. É cada vez mais popular como "remédio para dormir".
A melatonina é segura?
A melatonina é considerada segura. A maior parte dos efeitos colaterais (sonolência diurna, cefaleia, sonhos vívidos) são leves, transitórios e infrequentes. No entanto, os efeitos colaterais de seu uso prolongado não são bem conhecidos, por falta de estudos.
Um alerta importante foi feito pela Academia Americana do Sono em 2023, após estudo que revelou um aumento de 530% nos casos de intoxicação por melatonina em crianças entre 2012 e 2021 nos EUA. A maioria das ocorrências foi leve e acidental, mas 14% das crianças precisaram ser hospitalizadas, sendo 1% em UTI por causas como febre alta, crise epiléptica e insuficiência respiratória. Não há dados semelhantes brasileiros.
Para que a melatonina deve ser usada?
Mas afinal, existe papel da melatonina no tratamento de distúrbios do sono? A resposta é sim, mas não é o papel que as pessoas normalmente a utilizam. Ela não induz o sono de forma imediata nem melhora significativamente a manutenção do sono em quem desperta durante a noite.
Sua indicação principal é no tratamento dos distúrbios do ciclo circardiano, uma assimetria entre o ritmo circadiano interno e o horário em que o paciente deseja ou precisa dormir. O exemplo mais corriqueiro disso é o jetlag, que é a dificuldade em adormecer ou se manter dormindo quando cruzamos mais de 2 fusos horários. Outra situação comum é dos trabalhadores noturnos; enquanto algumas pessoas acabam se adaptando a rotina, outros têm dificuldade em "trocar o dia pela noite"
É comum que cuidadores de pacientes com demência se queixem que o sono não está bom: o paciente tira vários cochilos durante o dia, mas desperta várias vezes à noite. O tempo total de sono, se somarmos os cochilos, pode até estar adequado, mas o relógio biológico está desorganizado. Além da melatonina, orientações comportamentais também podem ajudar, como engajar o paciente em atividades físicas e mentais durante o dia e aumentar a exposição solar. Também há indicações específicas da melatonina no diagnóstico de Transtorno Comportamental do Sono REM e em crianças com transtorno do espectro autista (TEA) com sono fragmentado.
Resumindo...
A melatonina pode melhorar a qualidade do sono, ajustando o ritmo biológico. No entanto, não deve ser vista como solução universal para insônia
Referências
- AUGER, R. R. et al. Clinical Practice Guideline for the Treatment of Intrinsic Circadian Rhythm Sleep-Wake Disorders. An Update for 2015. Journal of Clinical Sleep Medicine, v. 11, n. 10, p. 1199–1236, 15 out. 2015.
- LELAK, K. Pediatric Melatonin Ingestions — United States, 2012–2021. MMWR. Morbidity and Mortality Weekly Report, v. 71, 2022.
- Health Advisory: Melatonin Use in Children and Adolescents. Disponível em: <https://aasm.org/advocacy/position-statements/melatonin-use-in-children-and-adolescents-health-advis....
- LOW, T. L.; CHOO, F. N.; TAN, S. M. The efficacy of melatonin and melatonin agonists in insomnia – An umbrella review. Journal of Psychiatric Research, v. 121, p. 10–23, fev. 2020.
- BESAG, F. M. C. et al. Adverse Events Associated with Melatonin for the Treatment of Primary or Secondary Sleep Disorders: A Systematic Review. CNS Drugs, v. 33, n. 12, p. 1167–1186, 13 nov. 2019.