Tontura após bater a cabeça é um problema bastante comum! Entenda porque acontece

O que é concussão?

Chamamos de concussão o trauma craniano "leve", dessa forma classificado a partir da escala de coma de Glasgow, que gradua a capacidade da pessoa de se manter acordada, de olhos abertos e responsiva a comandos logo após o evento.

Apesar de ser classificada como leve, a concussão pode ser acompanhada de sintomas que preocupam quem presencia o trauma. Logo após o impacto, o paciente pode evoluir com desmaio, perda de memória para eventos recentes e confusão mental.

Além dessas manifestações imediatas, alguns pacientes podem persistir com sintomas mesmo alguns dias depois do trauma, no que chamamos de síndrome pós concussional. É caracterizada por (nem sempre todos na mesma pessoa!): dor de cabeça, desatenção, lentificação, fala empastada, alteração de humor (irritabilidade, ansiedade, choro fácil), sensibilidade a luz e barulho, insônia ou sonolência excessiva.

Tontura após concussão

A tontura é um dos sintomas da síndrome pós concussional, sendo o segundo mais comum atrás da dor de cabeça. Trata-se de uma tontura de dificil descrição pelo paciente. Normalmente não é uma tontura do tipo "rotatória", como se o mundo girasse ao seu redor, que geralmente associamos ao labirinto. Geralmente é descrita como uma sensação de balanço, "andar em nuvens" ou de "pisar em almofadas", muitas vezes acompanhada de visão embaçada e dificuldade de focar em objetos com a mudança da posição da cabeça.

Por que acontece essa tontura?

Para entender esses sintomas, é necessário entender o funcionamento do nosso labirinto, localizado na parte interna do ouvido, em particular de uma parte dele chamada utrículo. O útriculo é capaz de perceber a movimentação do nosso corpo para frente e para trás, a influência constante da gravidade da Terra em nosso corpo e também proporciona nossa sensação de verticalidade (o que está de pé e o que está inclinado).


Dentro do utrículo há uma estrutura gelatinosa recoberta por cristais de carbonato de cálcio, os otólitos. A movimentação do nosso corpo é transmitida a essa estrutura gelatinosa, que é captada pelos neurônios do labirinto e transmitida ao sistema nervoso central. Com essas informações, nosso cérebro consegue ajustar nosso caminhar, nossa postura e o alinhamento de nossos olhos.

É proposto que o traumas cranianos levem a perda dos otólitos de sua matriz gelatinosa. Sem os otólitos, não temos o adequado funcionamento do utrículo e perdemos muitas informações importantes para nosso equilíbrio, levando aos sintomas já mencionados.

Essa tontura melhora?

Felizmente, na maior parte das vezes nosso corpo consegue se adaptar a essa mudança. Os sintomas de tontura e desequilíbrio são mais intensos nas primeira 24h, melhorando gradativamente nos primeiros 7-10 dias. Geralmente é aconselhado o afastamento das atividades normais (trabalho, escola, atividade física) durante pelo menos 24h, com retorno gradual após. A maior parte dos pacientes (85%) tem seus sintomas resolvidos em 3 semanas do trauma.


A persistência de tontura após 3 semanas ainda pode ser causada por disfunção dos otólitos que já comentamos - a adaptação em algumas pessoas é mais demorada. Entretanto, nesse momento outros diagnósticos diferenciais se abrem, necessitando de avaliação médica detalhada. Muitas vezes uma tomografia de crânio normal, que os pacientes frequentemente trazem do atendimento de pronto-socorro no momento do trauma, não exclui essas patologias, necessitando de exame físico direcionado e outros exames complementares.

Em resumo...

Embora a concussão seja considerada um trauma leve, seus sintomas podem ser persistentes e impactar significativamente o bem-estar. A tontura é um sintoma comum pós trauma e ocorre, entre outros motivos, por disfunção dos otólitos no labirinto. A maioria dos casos melhora espontaneamente em até três semanas, mas sintomas prolongados exigem investigação médica para descartar outras causas e orientar o tratamento adequado.

Referências

BRANDT, T. Otolithic Vertigo. KARGER eBooks, p. 34–47, 1 jan. 2000.

GIANOLI, G. J. Post-concussive Dizziness: A Review and Clinical Approach to the Patient. Frontiers in Neurology, v. 12, 4 jan. 2022.